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Clássicos Paulistas permanecem em torcida única devido aos casos de de violência no futebol

Feito por Carlos Eduardo Buchweitz ; Nahaly Crisitini da Silva Santos e Nicolas Oliveira da Silva



Jogo do Campeonato Paulista SUB-17 entre Santo André e Colorado Caieiras, em abril de 2023 - Foto de Nicolas Oliveira.


Desde 2016 vigora a determinação, liderada pelo Ministério Público (MP), de que as equipes Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo - além dos campineiros Guarani e Ponte Preta - realizem jogos entre si sem a presença do público visitante. A medida foi tomada no dia três de abril daquele ano com o objetivo de combater a violência no futebol paulista, após uma

série de conflitos entre torcedores de Corinthians e Palmeiras. O confronto que originou a torcida única nos estádios aconteceu em três regiões de São Paulo (São Miguel Paulista, Guarulhos e Brás), antes do Derby disputado no estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu. Torcedores dos outros clubes citados também tiveram episódios de violência em São Paulo, sendo assim, também foram incluídos na determinação as equipes de Campinas (Guarani e Ponte Preta) em 2019.

A partir da análise realizada anos depois, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) entendeu que houve uma redução no número de brigas nos estádios e em seus entornos sem comprometer a renda e público presente nesses jogos, porém o sociólogo da Universidade Salgado de Oliveira, Maurício Murad, alerta que a violência continua sendo praticada, que ela apenas saiu das proximidades dos estádios para praças distantes. No livro ‘A Violência no Futebol’, publicado em 2012, o sociólogo estuda o comportamento violento dentro do esporte e possíveis soluções há mais de três décadas.


O criador de conteúdo para a página @memoriadearquibancada, Victor Yokoo, concorda com os pensamentos de Murad e, ao ser questionado sobre soluções para o fim da violência, relatou que não teremos soluções em solo brasileiro pelo simples fato de que não há quem assuma a responsabilidade do tema. “Não existem aqui no Brasil, a gente sabe que ninguém vai mexer nesse ‘vespeiro’ de combater à violência”, disse Yokoo.

Ele que frequenta estádios desde 2003, vivenciou diversas experiências em meio aos torcedores, inclusive clássicos paulistas e, apesar de lamentar, concordava com a medida de torcida única no seu estágio inicial, mas percebeu que esses episódios de violência continuavam acontecendo e que o problema não estava nas torcidas dentro dos estádios. Ao relatar sobre suas vivências no Pacaembu, Victor Yokoo complementa, como parte do tema de violência, outras formas discriminatórias propagadas em cantos e gestos ofensivos. “Vou ser bem sincero, até 2014 eu entoava cantos homofóbicos [...] acho que a questão é: a gente precisa evoluir. Eu tinha essa mentalidade com 16 anos, hoje eu vejo esse absurdo. Então é uma forma de violência sim, pode não ser física, mas é verbal”, afirma ele.


Segundo a editora Oxford Languages, a palavra violência é ação ou efeito de empregar força física ou intimidação moral. Sendo assim, cantos e gestos ofensivos se enquadram em formas de violência.

Em 2022, foram registrados 72 episódios de homofobia no futebol brasileiro, número 74% maior em relação à 2021 segundo o coletivo Canarinhos LGBTQ+. Essas condutas se enquadram no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê pena de perda de pontos e multas que chegam até o valor de cem mil reais aos clubes que permitirem práticas de ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionadas a qualquer tipo de preconceito de origem étnica, sexual, de gênero, por idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.



Dados sobre homofobia e racismo no futebol brasileiro nos últimos 5 anos Gráfico elaborado à partir de relatório anuais do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.


Apesar dos índices de descriminação, apenas 10% dos casos foram devidamente punidos.


Enquanto isso, no continente europeu, as cinco principais ligas nacionais evitaram apresentar estatísticas referentes a discriminação racial. Cada país trata o assunto de acordo com sua política, tanto que o campeonato espanhol foi o único a listar os casos de racismo ocorridos entre o mês de janeiro de 2020 a dezembro de 2022, sendo nove deles direcionados ao brasileiro Vinícius Júnior e ainda não foram registrados os casos em que o jogador foi alvo de novas discriminações em 2023.


O que há de comum entre as ligas alemã, espanhola, francesa, inglesa e italiana são as sanções, sendo a maior delas na Inglaterra, onde as multas podem chegar a 300 mil libras (1,8 milhão de reais) aplicadas ao torcedor ou ao clube. Dentre essas ligas nacionais, protagonizou-se, no momento da festa dos campeões espanhóis e italianos, invasões de campo por parte dos torcedores rivais para praticar violência. Outro caso similar, ocorreu na classificação do West Ham para final da Conference League, sendo estes casos, todos ocorridos na atual temporada de 2022/23.


Victor Yokoo relembra os anos políticos ministrados por Margaret Thatcher, para exemplificar possíveis consequências ao combate da violência. “De fato ela acabou com a violência nos estádios da Inglaterra, ela coibiu de uma forma muito grande, mas há quem fale que ela não acabou só com os Hooligans, foi um ataque estrutural a todo futebol”, afirma enfatizando de que hoje as torcidas europeias são ‘frias’ e os estádios elitizados.

Os Hooligans foram grupos de vândalos espalhados pela Inglaterra que protagonizaram momentos hostis no futebol europeu. Vestidos com as camisas de seus respectivos times, tinham como objetivo brigar contra qualquer grupo de um time rival. Esses fatos tiveram notoriedade na final da Champions League de 1985 disputada entre Juventus e Liverpool em Heysel, na Bélgica.


Mapeamento do conflito entre torcedores de Juventus e Liverpool




Fonte: Estadão


Após esse conflito, houveram novas medidas adotadas por clubes, federações e governos com novos métodos de organização e segurança. Os estádios passaram por mudanças em suas estruturas físicas, a organização de torcedores foi alterada, buscando uma maior segurança e, juridicamente, as leis de segurança desportiva passaram a ser mais severas. No entanto, essa ação geraria consequências nos torcedores europeus, os tornando menos vibrantes e por assim dizendo, elitizando o futebol.


Na mesma época, no Brasil, também era comum os episódios de violência envolvendo torcedores. O auge desses conflitos foi em 1995, num clássico Choque-Rei (Palmeiras X São Paulo) no Pacaembu. Após o apito final, Palmeiras foi eleito o campeão da Supercopa SP de Juniores, dando início a triste cena de violência protagonizada pelas torcidas organizadas Mancha Verde e Independente. O estádio passava por reformas na época e isso contribuiu para que os instrumentos da construção fossem utilizados como armas, assim como objetos que embelezavam as festas nas arquibancadas, como mastros e instrumentos musicais.


Após repercussão do caso, a primeira iniciativa do Ministério Público foi solicitar a extinção das torcidas organizadas envolvidas, além de proibir a entrada de camisas que remetessem a essas organizações. Mastros e instrumentos musicais que, posteriormente, poderiam ser utilizados para novos conflitos também foram banidos. No fim das contas, as torcidas organizadas não foram extintas, mas a partir da lei estadual nº 9470, de dezembro de 1996 foram proibidas em São Paulo bandeiras com mastros, a venda, consumo e a utilização de bebidas alcoólicas, garrafas de vidro, além das bebidas em latas e fogos de artifício de qualquer natureza.

A medida de torcida única, determinada em 2016, permanece. Sendo os clubes, à favor da volta das torcidas, o Ministério Público e Secretaria de Segurança Pública, sendo contra, e a Federação Paulista de Futebol, que não adotou nenhum posicionamento sobre o assunto.


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