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Entenda qual o segredo do sucesso do álbum de figurinhas da Copa do Mundo

A significativa abrangência dos álbuns vai muito além de valores, as pessoas se apaixonam pelas memórias da época


Por: Glória dos Santos, Pedro Alves e Vitória Goes

Álbum de figurinhas Copa do Mundo do Qatar 2022 – Edição Ouro / Foto divulgação

Há cada quatro anos, o mundo se conecta para testemunhar um evento que une gerações, culturas e sentimentos. A realização do maior evento futebolístico, conhecido como Copa do Mundo, é aguardado por diversas classes sociais, faixas etárias e etnias espalhadas pelo globo terrestre. Tudo isso gera movimentos que refletem no alvoroço das torcidas.

No Brasil esse sentimento não é diferente. De certa forma, a brasilidade se aflora de uma maneira muito mais intensa nessa época de comemoração. E, independente do resultado, a nação se une para vibrar positivamente por uma vitória. E, para acompanhar esse misto de emoções e tradições, está o álbum de figurinhas, presente no ambiente familiar, nos espaços de lazer e até mesmo em recintos escolares. E não é um álbum qualquer, é o álbum da Copa do Mundo!


Essa é uma tradição que nasceu muito antes da ideia de lucrar com um produto. Se tornou um sucesso pelo sentimento genuíno e pela nostalgia que envolve, quase tão importante quanto a própria Copa. Inclusive, atualmente pode-se afirmar que um está ligado ao outro diretamente: se há Copa, há álbum.


O primeiro álbum oficial, contendo todas as seleções, foi o da Copa de 1950, sediada no Brasil. Nele havia uma versão diferente da que conhecemos atualmente, apresentando apenas os nomes, assinaturas e imagens dos jogadores em posição vertical. A distribuidora era “A Americana LTDA”, uma indústria de balas e doces que fornecia as figurinhas em balas - balas americanas.


Primeiro álbum de figurinhas / Foto: acervo do site “Museu da Copa”. Disponível em: https://museudacopa.com.br/2015/10/08/album-da-copa-do-mundo-de-1950-museu-da-copa/

Atualmente, a famosa companhia que produz e distribui os álbuns da Copa do Mundo é a italiana Panini, que chegou ao Brasil através de uma sociedade com a editora Abril, em 1989. Em 1995, a Panini recomprou as ações que estavam em posse da Abril, tornando, assim, o país centro de distribuição de figurinhas na América do Sul.


Desde então, a febre dos álbuns se expandiu juntamente com o número de títulos da seleção brasileira e, consequentemente, tornou a emoção e a chance de possuir ao menos um dos álbuns desses títulos, uma verdadeira jornada para o colecionador.


O entrevistado Alfredo Freitas, de 21 anos, analista de sinistros, que coleciona álbuns de figurinha há 13 anos, relatou que sua melhor lembrança com os álbuns são os jogos que assistia com eles em mãos, para acompanhar escalação dos jogadores e anotar o placar final logo quando acabavam as partidas.







Assim como Alfredo Freitas, todos os que adquirem álbuns a cada 4 anos são considerados colecionadores, mas não é tarefa fácil, tendo em vista que, de 2018 para 2022, houve um aumento de 100% no valor das figurinhas, ou seja, um pacote com 5 cards que passou de 2 a 4 reais. O preço dos álbuns também variou, de modo que o álbum com encadernação normal passou a custar 12 reais e o de capa dura 45 reais. O aumento foi tão considerável que, sites como Amazon lançaram mão de ofertas para incentivar os colecionadores a completarem seus álbuns da Copa do Qatar. O valor de desconto girava em torno de 8 reais para alguns kits e, mesmo que pareça pouco, ajudou os colecionadores, se levar em conta que era necessário investir 536 reais, no mínimo, para completar o álbum.


Thiago Régis, de 28 anos, consultor tributário e colecionador de álbuns de figurinha desde a infância, diz considerar o preço uma questão relevante. O fato de ser caro, o custo de completar o álbum, acaba se tornando algo muito seletivo, que não oferece mais oportunidade a todos como antigamente.




Sabendo que é nula a chance de completar um álbum sem comprar um pacote com cards repetidos, a alternativa para solucionar essa questão é, há alguns anos, a troca de figurinhas em estandes espalhados por diversas regiões e em diferentes lugares, como por exemplo, shoppings.


Alfredo relatou que, no ano passado, durante a Copa do Qatar, sua melhor lembrança com a troca de figurinhas foi quando encontrou um rapaz com fichários lotados de figurinhas e uma organização impecável.



Apesar de parecer um hobby exorbitante, os álbuns fazem muito sucesso em vendas. Em 2018, por exemplo, a Panini chegou a ter um faturamento de 1,14 bilhões de euros com a Copa do Mundo da Rússia. Entre os consumidores, as opções vêm aumentando consideravelmente, já que em 2019 foi lançado o álbum oficial da Copa do Mundo feminina, bem como da Conmebol, que, em parceria com a Panini, produzirá o primeiro álbum de figurinhas da Libertadores 2023, contando com 590 cards, dos quais 70 serão edições limitadas, por terem uma menor tiragem.


De acordo com Mariana Vila, 25 anos, formada em Psicologia e analista de gente, traçar os pontos em comum dos perfis de colecionadores envolve aspectos-chave, como por exemplo: o gosto de colecionar que surge desde a infância e que vai até a fase adulta.

“Este momento está relacionado a boas lembranças, sejam elas pessoais como sociais. Os próprios entrevistados mencionam que, ao colecionarem, estão mais próximos de amigos e familiares, e até mesmo de desconhecidos, e todos em prol do mesmo objetivo. O ato de colecionar os álbuns da copa aumenta a interação social entre os colecionadores, uma vez que se faz necessário a troca de figurinhas para poder completar o álbum, e isso consequentemente, é de grande valia para aqueles que em outros momentos sentem dificuldade de desenvolver certas habilidades sociais. E, por fim, podemos perceber a satisfação em completar o álbum, o que pode vir a melhorar algumas funções cognitivas, como por exemplo, organizar e se planejar em determinadas situações, criando estratégias para atingir o objetivo final.”


Mariana Vila fala de impactos sociais e cognitivos do ato de colecionar figurinhas


Os álbuns colecionáveis da Copa adquirem grande valor por serem considerados históricos, eles passam a ser muito valorizados e acabam por serem vendidos pelo dobro do valor investido. O álbum de 2022 teve como novidade também as figurinhas legends, que são versões muito exclusivas de jogadores importantes na edição da Copa do Mundo do Qatar.


Figurinha legend Neymar Copa do Mundo do Qatar 2022 / Foto: Divulgação Panini

Apesar do lucro monetário, muitos álbuns são colocados na estante após o frenesi dos jogos e do resultado final. O significado por trás vai muito além de apenas valores em dinheiro, expressam o valor sentimental da geração marcada por uma copa que nunca mais irá se repetir, pois nenhum jogo é igual ao outro. Ali na prateleira estão as lembranças fotográficas das seleções que não serão as mesmas daqui 4 anos e, assim, como se o tempo fosse congelado em imagens, há como revisitar o passado de uma Copa. Essa com certeza é a maior incentivadora de cada figurinha colocada para preencher uma moldura: a sensação! Sensação de fazer parte de um momento único e histórico dividido com diversos brasileiros através das conexões construídas, por vezes, com a troca de figurinhas.


Gustavo Abdul coleciona álbuns há 13 anos e fala da sua paixão





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