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Especialista do Butantan defende explicação clara sobre vacinas como antídoto às fake news

Atualizado: 3 de nov. de 2022

Segundo Vera Lúcia Gattás, é preciso fazer campanhas mais regionalizadas e com linguagem mais acessível


Por: Leonardo Sena e Theo Ferraz


Fonte: atep.iweventos


No último dia 6 de outubro, conversamos com a Dra. Vera Lúcia Gattás, 65, graduada em enfermagem pela Escola Paulista de Medicina, mestre em saúde pela USP, doutora em Doenças Tropicais e Saúde Internacional pelo Instituto de Medicina Tropical da USP. Atualmente, é pesquisadora científica do Instituto Butantan, onde atua como responsável pela Farmacovigilância, desde janeiro de 2010, e desenvolve pesquisas em vacinologia, com destaque para segurança de vacinas e soros. Ela falou sobre como as fake news impactaram na diminuição da taxa de vacinação, sobre a volta de doenças consideradas erradicadas e os desafios para o combate à varíola do macaco.


Repórter- Por que as pessoas não estão mais se vacinando como antes? E como a divulgação de fake news, inclusive por parte de personalidades da sociedade brasileira, como o atual presidente da república, pode influenciar no fato?


Dra. Vera - Não é fácil. É importante estar diariamente atenta às fake news que são propagadas sobre o assunto nas redes sociais, assim como os comentários da população nas redes do Instituto do Butantan, para que o trabalho de prevenção e contenção dessas notícias seja feito o mais rápido possível, sempre se baseando na ciência, nos estudos que são feitos diariamente pelo instituto. Sempre que uma pessoa de grande relevância diz algo contra a vacina, como o atual presidente, sabemos que há um grande número de pessoas que seguem tudo à risca o que ele fala. Por isso, é importante transmitir para a população da forma mais clara o funcionamento das vacinas, já que circularam casos de pessoas que morreram dias após tomarem o imunizante.


Repórter- Depois de um longo processo para que o programa vacinal brasileiro se consolidasse no âmbito nacional e internacional, sua credibilidade foi posta à prova durante a pandemia, principalmente pela circulação de fake news. Ao olhar para esse cenário, como vocês, cientistas e pesquisadores, se sentem?


Dra. Vera - Grande frustração, sinto desânimo, é um grande desserviço com a saúde pública, pois o nosso sistema de vacinação é bastante robusto e aclamado por várias nações, tanto que vários outros países se espelham no nosso programa de imunização. O SUS é um espelho em âmbito mundial. Como o foco era no Covid, várias outras doenças que estão no programa nacional de vacinação não tiveram a repercussão das mídias sobre as campanhas de vacinação que normalmente tinham, sendo um dos motivos para a diminuição da vacinação, como da poliomielite, por exemplo, doença com alto risco de complicações para os infectados que causa paralisia. Antes, as taxas de vacinação da população brasileira eram superiores a 95%. Essa onda de movimentos anti-vax não começou durante a pandemia. Uma das origens foi na Inglaterra, onde surgiram rumores de que a vacina contra o sarampo poderia causar autismo nos vacinados, algo que não tem nenhuma base científica. Isso causou dúvidas sobre a veracidade das vacinas. Por isso, muitas doenças que são difíceis de serem controladas e estavam erradicadas estão voltando, como a coqueluche.


Repórter- Quais as lições deixadas por esse período que estão sendo levadas em conta nas estratégias de divulgação da vacina da varíola do macaco?


Dra. Vera - Ser mais claro sobre o funcionamento da vacina com a população, explicar que é uma doença de menor gravidade e que as transmissões ocorrem de modo mais lento. É importante informar que, a princípio, serão vacinadas pessoas da linha de frente de combate ao vírus (área da saúde) e imunossuprimidos. Um dos problemas de divulgação das vacinas contra a Covid-19 foi que as campanhas foram muito centralizadas e com viés único para toda nação. As mesmas campanhas que circulavam em São Paulo, circulavam no Acre, por exemplo. Precisamos de uma linguagem mais direcionada para cada região do país e para cada meio de divulgação, pois a linguagem usada na televisão é diferente da usada nas redes sociais. Além disso, é preciso que nós também combatamos a fake news. Particularmente, eu "xeretei" o que circulava nas redes sociais sobre as vacinas, e fiz algumas publicações nas minhas redes sociais, combatendo algumas fake news. Portanto, é importante tomar muito cuidado com a forma que será explicada a varíola do macaco à população.


Repórter- Como as grandes mídias podem ajudar nas campanhas de vacinação?


Dra. Vera - Elas são uma importante ferramenta para a divulgação das campanhas contra o vírus. Vejo isso muito na Globo. Esse tema deveria ser tratado em toda grande mídia. Todos deveriam ajudar na circulação das campanhas.


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