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Jornalista do Jogada 10 fala sobre desafios da atuação da mulher no campo esportivo

Atualizado: 30 de nov. de 2022

Segundo Paula Vieira, "é importante que os espectadores entendam, reconheçam e confiem no profissionalismo da mulher"


Por: Gleidson Forte, Luis Felipe Ribeiro e Pedro Benevenuto

(Foto: Entre Focos)


Em entrevista para a agência EntreFocos, a jornalista esportiva Paula Vieira fala sobre experiências, desafios e o lugar da mulher jornalista na cobertura de grandes eventos esportivos. Ela ainda reflete se existem privilégios de gênero nas rotinas de trabalho junto aos colegas, aos atletas e ao público. Para Vieira, a mulher ainda é desfavorecida no âmbito do jornalismo esportivo e existem preconceitos enraizados na profissão.


Paula Vieira atua como repórter no Jogada 10 e do canal do YouTube Fala Glorioso - voltado à cobertura dos jogos do Botafogo, time que carrega no coração. Entre os trabalhos que marcaram a sua carreira, destacam-se a cobertura dos jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019, a Copa do Mundo na Rússia, em 2018, e o campeonato Oi STU de skate, que aconteceu no Rio de Janeiro.


Repórter - Quando você decidiu escolher o jornalismo como profissão?

Paula Vieira: Eu estudava pra fazer concurso público e, faltando três meses, decidi que queria fazer jornalismo, por gostar da profissão, por sentir que poderia ser uma boa jornalista e por eu sentir a necessidade de bons jornalistas jovens no mercado. Eu já tinha um pezinho no jornalismo devido ao “Fala Glorioso”, blog do atual canal do YouTube sobre o Botafogo, para o qual eu escrevia quando tinha entre 15 e 16 anos. Quando entrei na faculdade, consegui, por meio de um jornal, ingressar no LANCE!, que era meu objetivo desde o começo.


Repórter - Qual a importância do jornalismo para o universo esportivo?

Paula Vieira: A gente parte do princípio de que se não existisse o jornalismo esportivo as pessoas não conseguiriam acompanhar os esportes. Eu acho que a transmissão do esporte é importante, mas não basta só fazê-la, ter as imagens e mandar pra galera, é preciso estudar, conhecer os times, equipes, conhecer o entrosamento. Isso incentiva a pessoa a continuar acompanhando o esporte. É preciso levar essas informações para as pessoas pra poder alimentar essa vontade de saber mais.


Repórter - Você enxerga um caminho mais propício, no cenário atual, para que as mulheres ocupem a linha de frente na cobertura de grandes eventos esportivos?

Paula Vieira: Sem dúvida, hoje se tem portas maiores para as mulheres trabalharem no jornalismo esportivo é porque as pessoas enxergam essa ausência de mulheres nos programas. Em se tratando da mídia independente, já se vê bastante a participação de mulheres na cobertura de grandes eventos. Já está aumentando o número de mulheres na linha de frente, como o SporTV.

Repórter - Quais os maiores desafios que as mulheres enfrentam no jornalismo esportivo, um universo que, tradicionalmente e estruturalmente favorece os homens?

Paula Vieira: A mulher ainda tem que provar muito que tem o conhecimento sobre as regras tanto quanto o homem. O trabalho da mulher é muito questionado e os homens ainda são mais procurados do que as mulheres para falar de futebol – o que está começando a mudar um pouco isso é o jornalismo independente. E o que pega mais as mulheres dentro dessa profissão é a provação diária.


Repórter - Em sua opinião, campanhas como “Deixa ela trabalhar”, realizada em 2018, após um episódio de assédio durante uma reportagem na Copa na Rússia, contribuíram para a igualdade nas coberturas de grandes eventos esportivos?

Paula Vieira: Contribuem demais. A campanha “Deixa ela trabalhar” foi excelente. As jornalistas mulheres aderiram e passaram pra frente. Foi muito legal porque levou as pessoas a perceberem que um homem não passa por essas situações nos grandes eventos como passam as mulheres. Se ela faz o trabalho dela como um homem faz o trabalho dele, por qual razão a mulher merece ser desrespeitada? Foi muito legal ver essa onda da galera apoiando a causa.


"Se ela faz o trabalho dela como um homem faz o trabalho dele, por qual razão a mulher merece ser desrespeitada?"



Repórter - Como você percebe a contribuição de uma jornalista mulher no âmbito sociopolítico, em meio a uma cultura permeada por preconceito e discriminação?

Paula Vieira: A presença e o trabalho das jornalistas podem contribuir para a reflexão sobre a consciência de comportamento, sobretudo no respeito e na empatia diante de uma sociedade machista. A competência das mulheres não está ligada a uma imagem de beleza, mas ao seu conteúdo de confiança. É muito importante que os espectadores entendam, reconheçam e confiem em seu profissionalismo.


Repórter - Como foi a sua experiência em cobrir grandes eventos esportivos?

Paula Vieira: A Copa do Mundo e os Jogos Pan-Americanos foram os eventos mais marcantes da minha carreira. Foram dias intensos. A gente chegava na redação muito cedo e lá a gente acompanhava os jogos. Eu fazia crônicas, quando passavam os jogos. Lá, eu cobri dois grupos. Então, era muito trabalho todos os dias. Eu estava sempre muito ligada para ver se estava acontecendo alguma coisa com a torcida, acompanhava os bastidores. Eu fazia matérias especiais para deixar de gaveta. Foi muito legal. Foi o período que eu mais trabalhei no LANCE!. Por causa desse trabalho na copa do mundo, me chamaram pra acompanhar os Jogos Pan-Americanos de Lima como repórter e editora. No STU foi mais maneiro ainda, pois estive lá presente com a Seleção Brasileira de Skate, conheci muitos atletas e foi uma galera que realmente queria mostrar que tinha potencial e queria que o Brasil fosse para as Olimpíadas de Tóquio.

Repórter - Qual a matéria que você produziu e mais se orgulha na sua trajetória profissional?

Paula Vieira: Tem duas que eu gosto muito. “A presença da torcida transexual nos estádios”, que na época deu problema por causa da galera machista que criticou bastante, mas que foi uma matéria replicada por outros veículos. Consegui envolver torcidas organizadas, muitas pessoas elogiaram e se identificaram bastante com essa matéria. A outra foi uma matéria que eu fiz presencialmente com o Zico, ex-jogador do Flamengo.

Repórter - Qual a sua expectativa para cobrir a próxima Copa do Mundo, que será no Qatar, em 2022?

Paula Vieira: Minhas expectativas são ótimas, pretendo fazer algumas lives neste período de Copa, fazer parcerias com alguns canais, porque eu acredito que o streaming vai prevalecer, e as pessoas vão acompanhar mais os jogos e os conteúdos da internet do que os programas ou jornais tradicionais em si. Eu já estou ensaiando e fazendo entrevistas com a torcida do Botafogo para me preparar e mostrar minha cara na Copa do Mundo.


Repórter - Qual mensagem você deixa para os estudantes, principalmente mulheres, que desejam atuar nessa área?

Paula Vieira: Tenham coragem, persistência, porque é preciso mostrar que é bom. Se você conseguir aliar o seu trabalho com algo que você gosta, vai sempre ser um prazer ver seu nome na chamadinha da matéria, ver a reportagem que você escreveu sendo republicada por outro meio. Uma das melhores coisas que a gente pode ter no jornalismo é esse reconhecimento das pessoas. O momento ideal para decidir seu caminho é na faculdade. Tenha experiências nas mais diversas áreas do curso, aprender um pouco sobre tudo é ótimo. Coloquem o jeito de vocês na matéria para serem reconhecidos pelo estilo que escrevem, não desanimem e não deixem ninguém questionar sua competência, porque as mulheres sabem que estudam e se dedicam até mais para provarem que são boas. Não deixem de acreditar, o jornalismo pode proporcionar coisas muito boas.

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