top of page

Pais de vítimas da Boate Kiss realizam vigília em Porto Alegre em busca de justiça

Atualizado: 19 de abr. de 2023

Por: Flávia Fabreti Barros, Lia Kalil Ranieri, Samira Domingues


Desde o dia 27 de fevereiro de 2023, familiares e apoiadores se reúnem em frente ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), em Porto Alegre, como forma de protesto pela anulação do júri, que absolveu os réus pelo homicídio culposo de 242 jovens no incêndio da Boate Kiss.


Ligiane Righi da Silva, mãe de uma das vítimas da Kiss, contou que as dezoito pessoas presentes na vigília no dia 27 de fevereiro tinham objetivo de pedir prioridade total ao recurso especial que pede a revogação da anulação do júri pelo TJRS. Segundo ela, os pais das vítimas pretendem sair de lá apenas quando o recurso for julgado. Por isso, eles pedem doações através de uma plataforma de financiamento coletivo. BOATE KISS - 10 ANOS SEM JUSTIÇA | Vaquinhas online (vakinha.com.br)


No Instagram do coletivo “Kiss: que não se repita” (@kissquenãoserepita) e da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (@AVTMS27), a vigília foi anunciada e foram colocadas as hashtags #ReverteSTJ e #Anulaçãonão.

Silva perdeu a filha mais velha no incêndio, Andrielle Righi da Silva, que foi à boate para comemorar o seu aniversário de 22 anos. E, por isso, luta por um desfecho justo do caso. Segunda ela, o dia da anulação do júri foi um choque, e nunca imaginou que isso iria acontecer “A anulação foi uma bomba, demoramos para processar o que aconteceu”.


Ouça o relato:




Ligiane Righi da Silva perdeu a filha na tragédia da Boate Kiss / Foto: André Polga / @kissquenaoserepita

Série Netflix e Documentário GloboPlay


Em janeiro de 2023, o incêndio completou dez anos e, em homenagem às vítimas, foi lançado o documentário “Boate Kiss- A tragédia de Santa Maria”, na GloboPlay, e a série “Todo dia a mesma noite - O incêndio da Boate Kiss”, produzida pela Netflix, baseada no livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex.

Com esses lançamentos, a história da Boate Kiss foi trazida à tona, e muitas pessoas conheceram a história. Ligiane Righi da Silva conta que a repercussão da série ajudou muito as pessoas compreenderem o lado dos pais e das vítimas nessa luta por justiça.


Imagem da série "Todo dia a mesma noite: o incêndio da Boate Kiss" / Foto divulgação: Netflix


Ligiane da Silva conta que todos os dias fala de Andrielle, junto de seu marido, Flávio, e de sua filha mais nova, Gabrielle Righi, que de acordo com ela, tem os “trejeitos” de Andrielle. Ela fala que vai “lutar até que a justiça seja feita, até os seus últimos dias, não importa quanto tempo for”. Ligiane fez uma promessa à sua filha, que não deixará cair no esquecimento o que aconteceu naquele 27 de janeiro.


A história da Boate Kiss: 10 anos de impunidade


No dia 27 de janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, houve uma das maiores tragédias que o Brasil já viu. O incêndio da Boate Kiss, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridos, ocorreu por volta das 2h30 da manhã, durante o show da banda gaúcha “Gurizada Fandangueira”. O vocalista da banda, Marcelo de Jesus, com ajuda do produtor da banda, Mauro Lodeiro Hoffmann, prendeu um artefato pirotécnico em sua mão. Ao ritmo da música, o cantor pulava com o artefato, e assim, colocou fogo no teto da boate.


Entrada da Boate Kiss / Foto: Gabriel Haesbaert


Irregularidades da Boate


O artefato pirotécnico usado pela banda no dia não era apropriado para ambientes fechados. O vendedor da loja “Kaboom”, Daniel Rodrigues, relatou durante o júri, que ofereceu ao produtor da banda o produto para ambientes fechados, que custava mais caro. Só que ele preferiu o material mais barato, chamado “Chuva de Prata”; O revestimento acústico da boate foi feito com espuma comprada em loja de colchões, que ao pegar fogo, liberou um gás tóxico (ácido cianídrico), usado em câmaras de gás durante a segunda guerra. O gás tóxico foi a maior causa das mortes.



Foto tirada quatro meses após o incêndio da Boate Kiss, durante os protestos pela soltura dos réus / Foto: Dartanhan Baldez Figueiredo

A boate estava superlotada. Estima-se que havia mais de mil pessoas naquela noite, sendo que a capacidade máxima era de aproximadamente seiscentas pessoas;

Os extintores não funcionaram, além de não ter alarme ou sistema hidráulico, que é obrigatório por lei em todas as casas noturnas;

A boate tinha apenas uma saída. Muitos corpos foram encontrados no banheiro, pois era o único lugar iluminado, e as pessoas acharam que ali era a saída de emergência;

Quando começou o incêndio, o vocalista tentou apagar o fogo com o extintor mais perto, só que não funcionava, pois tinha sido usado indevidamente um fim de semana antes. Depois da tentativa falha de apagar o fogo, o vocalista e o resto da banda se retiraram, sem avisar ao público, e saíram da boate pelo camarim, que tinha uma saída que ninguém sabia.


Imagem de dentro da Boate Kiss após o incêndio / Foto: O Globo

Julgamento


O julgamento ocorreu apenas em dezembro de 2021, quase nove anos depois da tragédia. Deveria ter ocorrido em 2020, mas, por conta da pandemia, foi adiado. Aconteceu em Porto Alegre, e, durante dez dias, foram ouvidos os réus Luciano Bonilha Leão (produtor musical), Marcelo de Jesus dos Santos (cantor da banda Gurizada Fandangueira), Mauro Hoffmann (sócio da boate) e Elissandro Spohr (sócio da boate).

Os quatro foram condenados por homicídio culposo, sem intenção de matar. Elissandro Spohr foi condenado a 22 anos e 6 meses de prisão, por homicídio simples (matar alguém sem agravantes cruéis) com dolo eventual (quando o agente não tem intenção de matar, mas assumiu o risco). Mauro Hoffmann, por sua vez, foi condenado a 19 anos e 6 meses de prisão, por homicídio simples com dolo eventual. Já Marcelo de Jesus foi condenado a 18 anos de prisão, por homicídio simples com dolo eventual. Por fim, Luciano Bonilha foi condenado a 18 anos de prisão, por homicídio simples com dolo eventual.

Mas, em agosto de 2022, o julgamento foi anulado por dois votos a um, e os réus foram soltos no mesmo dia. O que pegou as famílias de surpresa. Desde então, as famílias das vítimas têm realizado vários protestos pedindo justiça.



Esquerda para direita: Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha, Elissandro Spohr e Marcelo de Jesus / Foto: @kissqueissonaoserepita

Fontes:

Instagram: @kissquenaoserepita

Livro “Todo dia a mesma noite. O incêndio da Boate Kiss”- autora: Daniela Arbex


Comments


bottom of page