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Entenda o conceito de direita e esquerda na política

Por: Carolina Antunes


Posicionamento político nada mais é que o ponto de vista do lado em que você, cidadão, enxerga o sistema político-social. É o que guia a sua perspectiva de certo e errado, aponta possíveis soluções para determinados problemas e, ainda, auxilia na tomada de decisões importantes. Esse olhar, apesar de parecer inofensivo quando analisado individualmente, tem o poder de impactar diretamente toda a coletividade social. É através de posicionamento político que mudanças históricas são feitas e vidas transformadas.


De forma geral, é possível dividir as principais inclinações de posicionamento político em duas grandes esferas: direita e esquerda, dois pontos-chave da história política contemporânea.


À direita, encontram-se ideais mais individualistas, centrados na figura de um único indivíduo. É o princípio de que, apesar de conviver em sociedade, cada um deveria ser livre para tomar suas próprias decisões, com ampla liberdade para fazer todas as escolhas que julgar certas. Sendo assim, o indivíduo é responsável por solucionar seus próprios problemas, sem sofrer nenhuma interferência do Estado.


Do outro lado, a esquerda se baseia em conceitos que abrangem mais o coletivo e possuem intervenção direta do Estado - sendo esse o principal responsável por minimizar as diferenças socioeconômicas separatistas do conjunto social.


Em suma, hoje, aqueles que se encontram à esquerda da sociedade estão engajados na luta pelo coletivo, como a defesa das minorias, enquanto a direita foca em questões de mérito individual.


Esquerda e direita: uma divisão histórica

Essa divisão é muito mais antiga que qualquer partido político brasileiro. A primeira referência aos ideais de direita e esquerda surgiram após a Revolução Francesa, em 1789. Na época, os Girondinos, representantes da aristocracia, sentavam-se à direita no parlamento, enquanto os Jacobinos, que representavam o povo comum, ficavam à esquerda do orador.


De um lado, a aristocracia defendia a continuidade de seus privilégios, assim como os da Igreja, e a manutenção da hierarquia de classes do antigo regime - ou seja, eram conservadores até o fim. Esse conservadorismo surge com Edmund Burke, um dos grandes inimigos da Revolução Francesa. Foi ele quem baseou as primeiras ideologias “de direita” que se espalhariam pelo mundo no século seguinte, renegando o progressismo revolucionário e a fé na razão.


Para Burke, a defesa da ordem moral, da tradição e da religiosidade, da liberdade econômica e da propriedade privada eram os conceitos básicos do conservadorismo - e esse deveria ser o maestro da sociedade moderna.


Do outro lado do parlamento francês, os comuns representavam a burguesia, classe trabalhadora que não tinha nenhum poder político na tomada de decisões. Esses lutavam pelo republicanismo, o secularismo e também o livre mercado, que visava fortalecer o comércio local, desprendendo-o da aristocracia, um reflexo claro da ideologia progressista. Por incrível que pareça, a esquerda nasceu do capitalismo burguês.


Mas isso teria pouca importância no século seguinte, pois a partir dos anos de 1800, o capitalismo liberal se desenvolveu amplamente com o crescimento de centros urbanos e o avanço da industrialização. Também considera-se um período de produção em massa de novas ideologias que viriam a moldar o pensamento contemporâneo.


Àquele momento, o foco das discussões políticas era a disputa entre capital e força de trabalho - e nesse contexto surge Karl Marx. Ele foi um dos grandes pensadores da época, responsável por conceber, pela primeira vez, as ideias de socialismo e comunismo, que inspiraram diversos movimentos operários e a criação de sindicatos urbanos que defendiam o trabalhador.


Para Marx, a classe operária era a principal responsável por todo o avanço socioeconômico que acontecia desenfreadamente nas grandes metrópoles do mundo, desse modo, essa deveria ser a detentora de todos os meios de produção. O que o revolucionário propunha era a derrubada dessa hierarquia de classes e a redistribuição de renda entre todos os grupos, tornando a sociedade igual em valores, costumes e posses. Desde então, o foco das discussões sociopolíticas passou a ser essa entre a disputa do capital e a força de trabalho mal remunerada.


Já no século XX, a sociedade testemunhou outros marcos históricos, como a aprovação do voto universal, a expansão de outros setores da economia, como o desenvolvimento tecnológico, e o fortalecimento das democracias liberais, neoliberais e também das sociais democracias, que tentaram pôr em prática o modelo social desenvolvido por Marx. A política, enfim, tinha como suas principais questões a atuação do Estado na economia e também na sociedade, quais valores políticos deveriam ser promovidos e quais precisavam ser erradicados. Sendo assim, direita e esquerda continuavam numa discussão direta.


Obrigação como cidadão democrático de direito


No decorrer da história, essas duas esferas políticas já se misturaram e também divergiram diversas vezes, criando ainda outras nomenclaturas (como extrema-esquerda, centro e extrema-direita) para melhor abraçar a pluralidade de ideias que rodeia o ser humano e seus coletivos. Mas a verdade é que, ainda que extremistas existam, a realidade social inviabiliza tais pensamentos antagônicos, fazendo com que seus seguidores eventualmente cedam em dar razão ao outro lado - o que não necessariamente implica em admitir derrota, mas, sim, encarar a realidade em prol de um bem maior. A política é, afinal, uma balança que precisa pender para um dos lados.


Assumir um posicionamento político é, acima de tudo, parte da obrigação de um cidadão civil, mas isso vai além de hastear certas bandeiras. Posicionar-se pode incluir participar de protestos, encaminhar denúncias político-sociais a jornais e outros meios de comunicação, acompanhar, debater diferentes pontos de vista e, é claro, votar regularmente nos candidatos que melhor lhe representam. Todos esses atos, por sua vez, dependem de letramento político de qualidade; muito além de conhecer nomes e cargos, é compreender a função de cada funcionário da democracia, a fim de cobrá-los seus direitos e deveres, denunciando erros e outros desacatos.


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