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Transição de livros didáticos físicos para digitais levantam problemas nas escolas públicas de São Paulo

Governo Estadual determinou a obrigatoriedade dos materiais digitais para estudantes


Levantamento “panorama da qualidade da internet nas escolas públicas brasileiras” mostrou que a média de computadores é de 1 para cada 10 alunos  / Reprodução: iStockphoto

O Governo de São Paulo tornou obrigatório o uso de materiais didáticos digitais, a partir de 2024, para estudantes do ensino fundamental e médio das escolas estaduais de São Paulo. A decisão tem gerado diversos questionamentos entre especialistas sobre as estruturas das escolas e qualidade dos materiais didáticos.

Os livros digitais são apontados, pelo governo como materiais melhores que os físicos e que podem ser utilizados de forma mais eficiente e rápida. Mas, quem é contrário à ideia cita como exemplo a Suécia, referência em educação mundial, que já havia implementado esse tipo de recurso há pelo menos 15 anos, mas voltou atrás com a decisão. A Agência Nacional de Educação Sueca reuniu pelo menos nove estudos que abordam os malefícios dos livros digitais em diversos países, como Estados Unidos e Espanha. Segundo as pesquisas, eles geram falta de atenção e menor aproveitamento causado pelas telas. 

Educadores mais velhos são os mais afetados pela mudança por conta da dificuldade de se adaptarem às plataformas. Uma professora da rede pública, que prefere não ser identificada, relatou que, com a chegada dos livros digitais na escola, novos problemas surgiram. Sinal de internet de má qualidade, atraso para entrega de materiais e a adaptação para o digital são reclamações recorrentes. Ela conta que é cansativo ter que fazer uma chamada no papel e, posteriormente, transferir para o sistema, além de que alguns professores sentem necessidade de levar materiais de casa para ministrarem suas aulas.

A secretaria executiva de educação estadual prometeu a compra de mais computadores para as escolas, doação de computadores para alunos carentes, instalação de internet de alta velocidade nas escolas que não tenham acesso rápido e autorização para as escolas imprimirem material para alunos que precisarem dele em papel. 

Mas as escolas ainda aguardam a implementação de todo o projeto. “Acredito que se for bem utilizado, tanto um como o outro surte um bom efeito, mas o que percebo é que a forma que eles estão sendo apresentados na escola é o que está trazendo dificuldade”, diz Cláudia Simone da Mota, vice-diretora da Escola Estadual Nossa Senhora da Penha, localizada na Zona Leste de São Paulo. ”Está sendo colocado como uma imposição. Se fosse algo trabalhado a longo prazo, com testes, escolas-pilotos, introduzido com calma, treinando os professores, teríamos resultados melhores”, completa.

Os críticos à decisão destacam que a medida foi tomada sem qualquer estudo, sem capacitação da comunidade escolar e sem diálogo com professores e gestores. Tereza Perez, diretora-presidente da Roda Educativa, Organização da Sociedade Civil que cria ações e projetos para promover uma melhor educação nas escolas públicas, acredita que se ambos os materiais fossem utilizados ao mesmo tempo, os resultados seriam melhores. “Os dois suportes precisam ser utilizados na escola. Do mesmo jeito que as plataformas estão disponíveis, os livros também estão. Não há razão para exclusão de nada. Há sim, necessidade de uso qualificado independente do suporte papel, ou digital”.

Um estudante de 16 anos, de uma escola da Zona Sul de São Paulo, conta que não considera uma boa opção a transição para livros digitais no momento atual: “Por agora, os livros serem 100% digitais não seria algo bom, muitas pessoas vão para a escola pública para almoçar por não ter comida em casa, com certeza não vão ter como comprar um celular. Tenho amigos que não têm condições. Nas escolas, a internet também não é tão boa, então dificulta para pesquisar e entrar nos livros digitais”.

Essa medida levou professores da rede pública de ensino do Estado de São Paulo a iniciarem uma greve contra a utilização de livros digitais nas escolas que durou uma semana, de 13 a 19 de maio, apoiado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). De acordo com o Sindicato, o método imposto pelo governo acaba com a autonomia dos professores, o que dificulta a abordagem de novos conteúdos e que também pode levar ao abandono dos livros didáticos.


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